O legado da escritora mineira continua a impactar a literatura e a educação no Brasil, abrindo caminhos para outras mulheres negras e latino-americanas.
Publicado • 24/03/25 às 01:07h
No dia 14 de março de 2025, Carolina Maria de Jesus completaria 111 anos. Mulher, negra, favelada e escritora, sua voz ecoa até hoje como um grito de resistência e força. Sua obra “Quarto de Despejo – diários de uma favelada”, traduzida para 14 idiomas, ainda é um dos livros mais lidos de uma mulher negra no mundo. Carolina rompeu barreiras, mostrando que a literatura pode ser um espaço de expressão e transformação social para aqueles historicamente marginalizados.
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Uma Literatura que Inspira a Educação
Segundo Tom Farias, autor da biografia “Carolina – uma biografia”, a escritora deve ser lida e discutida nas escolas para que outras “Carolinas” possam surgir. Sua escrita, carregada de realidade e crueza, permite que estudantes, especialmente os da EJA (Educação de Jovens e Adultos), enxerguem-se como sujeitos com histórias dignas de serem contadas.
“A Carolina quebra o conceito de cânone literário no país”, afirma Tom. A literatura sempre foi um espaço elitizado, dominado por vozes brancas e burguesas. Carolina mostrou que a escrita também pertence às mulheres negras, às faveladas, às que lutam para sobreviver.
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Representatividade e Mudança Social
A inclusão de sua obra em vestibulares e no Enem é uma forma tardia de reconhecimento, mas essencial para ampliar a visibilidade de autoras negras. “Se o Brasil tem 51% de mulheres na população, quantas Carolinas já enterramos e deixamos de fora desse processo?”, questiona Tom Farias.
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O impacto de Carolina vai além das universidades. No ensino infantil e fundamental, sua história pode ser trabalhada de forma lúdica, aproximando as crianças de uma realidade que também precisa ser valorizada. Livros como “Procura-se Carolina”, de Otávio Júnior, ajudam a introduzir sua trajetória aos pequenos leitores.
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A Educação como Sonho e Resistência
A educação foi um dos pilares da vida de Carolina. Mesmo com apenas dois anos de escola formal, ela compreendeu a importância do conhecimento e fez questão de garantir que seus filhos estudassem. Sua filha, Vera Eunice, atendeu a um pedido da mãe e se tornou professora. Hoje, leva o legado de Carolina para as novas gerações.
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A história de Carolina Maria de Jesus é um lembrete poderoso de que a literatura é um espaço de resistência. Sua voz continua viva, inspirando mulheres negras, imigrantes e latino-americanas a contarem suas próprias histórias. Carolina provou que as palavras têm força para transformar realidades e construir futuros.