Publicado em 12/03/24 às 08:23h
Atualizado em 12/03/24 às 19:08h
No tecido multifacetado da imigração boliviana em São Paulo, uma realidade sombria está emergindo: a crescente presença do alcoolismo entre as mães imigrantes e seus filhos. Essas pequenas vidas, inicialmente permeadas pela esperança de uma vida melhor, são agora marcadas pela violência, medo e vergonha.
A imigração boliviana no Brasil remonta aos anos 70, trazendo consigo uma riqueza cultural inigualável e contribuindo significativamente para o mercado têxtil em São Paulo. No entanto, junto com sua contribuição econômica, a comunidade boliviana também trouxe consigo um problema crescente de consumo excessivo de álcool entre as mães de família.
Hoje, as mulheres representam 51% da população imigrante boliviana no Brasil (*) , muitas das quais são jovens e vulneráveis. Essas mulheres são alvo de estratégias de marketing que promovem o consumo de álcool, enquanto estudos indicam que até 2030 as mulheres brasileiras poderão igualar os homens no consumo de bebidas alcoólicas.
(*) Fonte – CAMI, Centro do Imigrante, complementada por institui e coletivos de imigrantes bolivianos.
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Filhos do Álcool: Uma Realidade Chocante na Comunidade Imigrante Boliviana em São Paulo
No cerne da imigração boliviana em São Paulo, emerge uma trágica realidade: os filhos do álcool. Em um contexto de migração contemporânea, onde as crianças tornam-se vítimas de uma complexa teia de problemas sociais que envolvem o aliciamento, o consumo de álcool e a exaustão no trabalho. Esse ambiente sombrio potencializa a vulnerabilidade das crianças nascidas nesse contexto.
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Relatos de abuso, negligência e violência contra essas crianças são alarmantemente comuns. Essas tragédias não ficam restritas apenas aos lares, mas também se estendem aos bares e centros comerciais do bairro do Brás, conhecido por sua concentração comercial boliviana em São Paulo. É uma realidade desoladora, onde mães, impulsionadas pelo álcool, negligenciam seus filhos em meio ao caos das ruas.
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Segundo a Dra. Patricia Vega, advogada criminalista boliviana, “antigamente, após os feriados, sempre tínhamos uma lista interminável de casos de violência doméstica e negligência infantil. Hoje, esses números estão aumentando no início da semana, resultado dos excessos do final de semana”. O álcool tem sido o catalisador dessa violência que assola as famílias imigrantes, envolvendo cada vez mais os menores nesse ciclo de dor e sofrimento.
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Para as crianças filhas de alcoolistas, o sofrimento é constante. Elas são submetidas a um ambiente marcado pela violência, insegurança e privação emocional. Estudos sugerem que o alcoolismo dos pais pode levar a uma série de estressores adicionais, impactando negativamente o desenvolvimento infantil.
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“Profissionais da saúde mental alertam para as consequências devastadoras do alcoolismo parental, incluindo negligência, violência e até abuso sexual”.
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Enquanto isso, a resposta das autoridades brasileiras diante da crise enfrentada pelas crianças imigrantes tem sido insuficiente. A falta de denúncias e a negligência dos articuladores sociais comprometem gravemente a proteção desses menores em situações de vulnerabilidade. É alarmante observar que até mesmo a Sra. Wanda Herrero, presidente do CONSEGUE MOOCA, expressou a crença de que a segurança dos imigrantes e suas famílias é de responsabilidade exclusiva dos próprios imigrantes. Essa declaração foi verbalizada dentro das instalações do Centro do Imigrante, em agosto de 2023, dirigida aos próprios imigrantes que levantavam preocupações sobre a segurança na Rua Coimbra e seus arredores. Esse incidente lamentável destaca a falta de compreensão e apoio por parte das autoridades brasileiras em relação aos desafios enfrentados pela comunidade imigrante, especialmente quando se trata da proteção das crianças em situações de risco.
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O descaso do Estado Boliviano, representado pelo Consulado Boliviano em São Paulo, tem sido alvo de críticas devido à sua omissão e falta de ação diante da crise enfrentada pela comunidade imigrante. A ausência de iniciativas educativas e de parcerias institucionais para a proteção das crianças imigrantes é alarmante e demonstra uma lacuna significativa que precisa ser preenchida urgentemente. A inexistência de uma equipe de assistentes sociais dentro do ambiente consular boliviano agrava ainda mais essa situação, deixando as crianças imigrantes ainda mais desamparadas e vulneráveis. Essa falta de ação por parte do Consulado Boliviano ressalta a necessidade premente de medidas eficazes para proteger e apoiar as crianças e mulheres imigrantes em São Paulo.
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“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao lazer e à profissionalização, à liberdade, ao respeito, à dignidade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
Ou seja, não é só dever da família garantir os direitos das crianças e adolescentes, mas também da sociedade e do Estado.
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A segurança das crianças bolivianas, deve ser uma responsabilidade compartilhada entre as comunidades, as autoridades locais e os órgãos governamentais. Somente por meio de uma abordagem colaborativa e proativa podemos esperar mudar o curso dessa trágica realidade e proteger as crianças vulneráveis do ciclo de abuso e negligência.
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Mulheres Imigrantes Bolivianas: Alvo de Promoções e Vulnerabilidades
No panorama da imigração boliviana no Brasil, um fenômeno marcante está surgindo: a crescente presença e vulnerabilidade das mulheres. Com 51% da população imigrante boliviana no Brasil sendo do sexo feminino, esse contingente, predominantemente mães jovens, enfrentam desafios singulares, incluindo o aliciamento à violência desde suas raízes na Bolívia.
O sonho de oportunidades laborais, muitas vezes pintado em cores vibrantes, tem sido um chamariz para muitas mulheres bolivianas. Ofertas de emprego no Brasil, historicamente reservadas ao público masculino, agora se voltam para o público feminino, prometendo salários em dólares e um futuro próspero. No entanto, por trás dessa fachada de promessas reluzentes, esconde-se um mercado de trabalho de alta vulnerabilidade, onde o aliciamento para situações de exploração e abuso é uma triste realidade.
Dependência química
Considerando que a dependência química é reconhecida como uma doença e classificada como um Transtorno Mental, oferecer tratamento específico para dependentes químicos imigrantes na cidade de São Paulo pode ser uma excelente estratégia para combater o alcoolismo entre os jovens imigrantes.
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Em 2023, o portal de notícias Bolívia Cultural realizou uma enquete reveladora entre mulheres imigrantes no estado de São Paulo. Os resultados são chocantes: 98% das entrevistadas admitiram ser vítimas de assédio moral e sexual em seus locais de trabalho. Mais alarmante ainda é o fato de que 93% delas desconheciam que o assédio moral e sexual são crimes. Mesmo as que têm consciência da ilegalidade dessas práticas frequentemente permanecem em silêncio, justificando sua tolerância às situações de abuso pela necessidade de sustentar suas famílias, como testemunhado por Arminda, uma jovem boliviana de 27 anos que trabalha com sua filha de dois anos na indústria têxtil em São Paulo.
Essas mulheres, muitas das quais são mães de família, encontram-se em uma encruzilhada desoladora entre a sobrevivência e a dignidade. A necessidade premente de sustentar seus entes queridos na Bolívia, juntamente com as demandas da maternidade e a busca por uma vida melhor, as deixam vulneráveis à exploração e ao abuso.
O assédio e a exploração de mulheres e crianças não conhecem fronteiras; eles transcendem culturas e nacionalidades. No entanto, para as mulheres imigrantes bolivianas, esses desafios são exacerbados pela falta de familiaridade com seus direitos e pela sensação de isolamento em uma terra estrangeira.
No coração desta questão, permanece a necessidade de políticas públicas e intervenções que abordem as raízes profundas do problema, promovendo a segurança, o bem-estar e os direitos das crianças e mulheres imigrantes, garantindo que todas as crianças tenham a chance de crescer em um ambiente seguro e amoroso, livre do peso do álcool e da violência. Educação, conscientização e acesso a recursos legais são passos essenciais para enfrentar essa crise e garantir um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todas as mulheres, independentemente de sua origem ou status socioeconômico.
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