Dia de Finados: A Influência da Cultura Boliviana numa das Datas Mais Saudosas do Calendário Brasileiro

A presença da comunidade boliviana transforma a celebração em uma rica experiência cultural, unindo tradições e ressignificando a memória dos que partiram, em Todos Santos!

Publicado • 26/10/24 às 13:02h
Atualizado • 26/10/24 às 21:05h

O Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro, assume uma nova dimensão no Brasil com a forte presença da comunidade boliviana, que traz consigo tradições vibrantes e significativas. Conhecida como “Todos Santos” na Bolívia, essa festividade é um evento repleto de simbolismos que mescla práticas pré-coloniais com influências cristãs, enriquecendo o já diversificado mosaico cultural brasileiro.

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À medida que a data se aproxima, as famílias bolivianas se preparam com carinho e dedicação para homenagear seus entes queridos falecidos. A ornamentação dos túmulos com flores coloridas e vibrantes é uma prática comum, simbolizando a continuidade do vínculo entre os vivos e os mortos. Essa reverência é especialmente visível em bairros com uma forte presença boliviana, como Brás, Parí, Belém, Bom Retiro, Vila Maria e Casa Verde na cidade de São Paulo, onde a preparação para o Dia de Finados se intensifica, refletindo o sincretismo cultural da sociedade andina.

A celebração inicia em 1º de novembro, ao meio-dia, momento em que se acredita que as almas dos falecidos retornam para compartilhar uma refeição com os vivos. Para os bolivianos, a morte é entendida como uma transição natural, não como um fim, inserindo-se em um ciclo de vida que contrasta com a perspectiva linear predominante na tradição cristã. Essa visão profunda sobre a vida e a morte enriquece a experiência cultural no Brasil, promovendo uma reflexão ampla sobre memória e perda.

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Nas casas dos imigrantes bolivianos, a tradição inculca a montagem da saudosa mesa

Todos os Santos” é um ritual cuidadosamente planejado. Uma toalha preta ou branca segundo a idade do difunto é estendida numa mesa, cercada por flores e canas de açúcar, adornada com alimentos típicos, frutas, folhas de coca, cigarros e as famosas “masitas”, pães em formato de figuras simbólicas, dentre elas, destaca-se a “T’antaWawa”, que vem da palavra aimará de duas vozes, “t’anta” que significa pão e “wawa” que significa criança, então a tradução seria criança de pão. Há também outras figuras feitas de massa de pão, há “A Cruz” representando Jesus Cristo, “A escada” que simboliza a passagem das almas descendo do céu ao mundo, “ O Cavalo” que transporta as oferendas do falecido, “O Biscochuelo” feito de massa a base de ovos, doce que simboliza o caixão do falecido, sem esquecer os “suspiros, maicillos, biscochuelos, rosquetes, urpus, além das empadas de lacayote”. Entre os pratos típicos podemos destacar, “a sopa de ervilhas, Ají de lentejas, o ají de trigo, e o ají de papalisa” que são os mais elaborados pelas famílias imigrantes na festividade, sempre acompanhados de frutas da época, como bananas, pêssegos, laranjas, uvas, e maças.

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Foto – APG

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Durante o dia e parte da noite, é comum que grupos de crianças visitem os lares, recitando rezas e cantando musicas tradicionais em troca de alimentos, contribuindo para a atmosfera festiva e de união. Essa prática reforça o sentido de comunidade e solidariedade entre os que compartilham a mesma tradição.

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Celebração do Dia de Finados no Cemitério Vila Formosa: A Influência da Tradição Boliviana em um Banquete de Memória

No Cemitério Vila Formosa, o maior da América Latina, a celebração da comunidade boliviana se destaca. Enquanto muitos brasileiros veem o Dia de Finados como um momento de reflexão e tristeza, os bolivianos promovem um banquete em honra aos falecidos. Mesas são montadas com esmero sob os túmulos, repletas de frutas, pratos tradicionais e as bebidas favoritas dos que partiram. Essa tradição se mantém viva nos quatro anos seguintes ao falecimento, após os quais a continuidade do ritual é decidida pela família, evidenciando a flexibilidade e adaptabilidade das tradições.

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Essa rica prática cultural, trazida pelos migrantes bolivianos, não apenas enriquece a cultura brasileira, mas também promove um diálogo intercultural que amplia as perspectivas sobre a vida, a morte e a memória. O Dia de Finados, sob a influência boliviana, convida todos a refletir sobre suas próprias tradições, celebrando a diversidade que torna o Brasil um país singular e plural. Essa fusão de culturas reitera a importância de cultivar a memória e o legado dos que partiram, criando um espaço de homenagem que transcende as barreiras temporais e culturais.

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Comércio local se aquece em Todos Santos

Comemorado intensamente pela comunidade boliviana em São Paulo, o Dia de Todos Santos se tornou uma data essencial para o comércio da cidade, especialmente entre os imigrantes bolivianos. Durante essa festividade, as lojas e feiras da comunidade adaptam seu estoque e disponibilizam uma variedade de produtos tradicionais que são indispensáveis para as celebrações. Entre os itens mais procurados estão as T’antaWawas, biscochuelos, doces variados e os pratos típicos da época, que ajudam a manter vivas as tradições bolivianas.

Os principais pontos de venda incluem a Praça Kantuta, que abre aos domingos, e a Feira da Rua Coimbra, disponível aos finais de semana, além das diversas lojas físicas que operam durante a semana, atendendo à crescente demanda por esses produtos tradicionais. Estes locais se tornam polos de encontro e de preservação das raízes culturais, fortalecendo não só o comércio, mas também o espírito comunitário.

Praça Kantuta
R. Pedro Vicente, 600 – Pari, São Paulo – SP
Próximo à Estação de Metrô Armênia
Aos domingos

Feira Coimbra
R. Coimbra, altura do número 141 – Brás São Paulo – SP
Próximo à Estação de metrô Bresser – Mooca
– Feira – no final de semana
– Lojas físicas – de segunda a sexta-feira

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