Maria Galindo Desmascara Questões Estruturais da Sociedade e Política Boliviana em Entrevista Impactante

A ativista boliviana María Galindo expôs as profundas desigualdades e Corrupção Institucionalizada da política e sociedade bolivianas, destacando a luta feminista como essencial para a descolonização e despatriarcalização do país.

Publicado • 16/08/24 às 16:14h

Na emblemática entrevista concedida ao programa Fuego Cruzado da Rádio Televisão Popular (RTP), a ativista boliviana Maria Galindo, com mais de 30 anos de atuação, expôs sem rodeios as entranhas da política e da sociedade boliviana. Sua postura crítica e incisiva é fruto de uma trajetória marcada pela defesa incansável dos direitos das mulheres e das minorias, num país que ela mesma define como “único”, mas profundamente marcado por desigualdades estruturais.

María Galindo é uma das figuras mais emblemáticas do anarcofeminismo na América Latina. Psicóloga, artista, ativista, feminista e locutora de rádio, Galindo não se limita a um único papel. Sua atuação multifacetada reflete a complexidade das lutas sociais na Bolívia. Como fundadora do movimento feminista Mujeres Creando, uma organização que reúne mulheres de diversas identidades sexuais, classes sociais e idades, Galindo tem sido uma voz poderosa contra o machismo e a homofobia. Seu trabalho performático, que muitas vezes a levou a ser detida pelas autoridades, é uma forma de resistência que desafia as normas estabelecidas.

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Durante a entrevista, realizada na cidade de La Paz, Galindo não poupou críticas à classe política boliviana, que, segundo ela, perpetua um sistema patriarcal e excludente. “A descolonização não pode ocorrer sem a despatriarcalização”, afirmou, ecoando o título de um de seus livros mais influentes. Para ela, a luta pela igualdade de gênero é intrinsecamente ligada à luta contra as estruturas coloniais e racistas que ainda dominam o país.

Galindo também abordou a importância da autonomia cultural e a necessidade de construir espaços de resistência fora das instituições tradicionais. A ativista ressaltou o papel fundamental das mulheres na construção de uma Bolívia mais justa e equitativa, destacando que a diversidade de vozes é essencial para desafiar o status quo.

O movimento Mujeres Creando, que já existe há mais de duas décadas, é um exemplo vivo dessa resistência. Composto por mulheres de diferentes setores sociais, idades, culturas e orientações sexuais, o coletivo tem sido uma força motriz na luta contra o patriarcado na Bolívia. As ações do grupo vão desde a intervenção artística até o ativismo político direto, sempre com a missão de dar voz às populações mais fragilizadas, que sofrem uma infinidade de atropelos do sistema político e social boliviano.

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A Corrupção Institucionalizada na Bolívia: Um Câncer que Atropela os Setores Mais Frágeis da Sociedade

A corrupção na Bolívia não é apenas um problema administrativo; é uma doença crônica que penetra nas veias da sociedade, atingindo de forma mais brutal os setores mais frágeis e marginalizados. Em sua contundente análise, a ativista Maria Galindo, durante a entrevista ao programa Fuego Cruzado, da Rádio Televisão Popular (RTP), destacou como essa corrupção institucionalizada se comporta como um verdadeiro câncer, corroendo as bases da democracia e perpetuando as desigualdades sociais no país.

Na Bolívia, a corrupção não é um fenômeno novo, mas ao longo dos anos, ela se tornou cada vez mais complexa e intrincada, infiltrando-se em todas as esferas do governo e da sociedade. Para Galindo, esse sistema corrupto é mantido por uma classe política que se beneficia diretamente da exploração e do sofrimento das comunidades mais vulneráveis. Esses grupos, muitas vezes indígenas, mulheres e trabalhadores de baixa renda, são as maiores vítimas de um sistema que favorece a elite e marginaliza os que têm menos poder e recursos.

A corrupção, segundo Galindo, é a força motriz que impede o progresso social na Bolívia. Ela cria um ciclo vicioso em que os recursos que deveriam ser destinados à educação, saúde e infraestrutura para os mais necessitados são desviados para os bolsos de poucos privilegiados. Essa apropriação indevida de recursos não apenas rouba a oportunidade de um futuro melhor para milhões de bolivianos, mas também fortalece um sistema de opressão que alimenta o desespero e a desconfiança nas instituições públicas.

Galindo enfatiza que, para as comunidades pobres e marginalizadas, a corrupção não é apenas um conceito abstrato, mas uma realidade diária que impacta diretamente suas vidas. Ela se manifesta na falta de serviços públicos essenciais, na má qualidade da educação, na ausência de infraestrutura básica e na falta de oportunidades econômicas. Para essas comunidades, a corrupção é o motivo pelo qual seus filhos estudam em escolas sem condições mínimas de funcionamento, pelo qual as estradas que levam às suas vilas são intransitáveis, e pelo qual o acesso a cuidados de saúde de qualidade é praticamente inexistente.

Além disso, a corrupção institucionalizada também impede a verdadeira representação política dessas comunidades. Os líderes que emergem de setores populares muitas vezes são cooptados ou silenciados pelo sistema, que prefere manter o status quo em vez de promover uma redistribuição justa de poder e recursos.

A entrevista foi transmitida na noite de 14 de agosto de 2024, no programa Fuego Cruzado, da Radio Televisión Popular, que emite sua programação diretamente da cidade de La Paz, Bolívia.

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