Liderança Xavante denuncia omissão alarmante do Governo de Mato Grosso

Denúncia de descaso: Liderança Xavante Mara Barreto Sinhowawe relata situação durante o Acampamento Terra Livre e recebe apoio do Movimento Andino Amazônico de São Paulo.

Publicado em 05/05/24 às 15:12h
Atualizado em 06/05/24 às 13:17h

A voz da liderança indígena Mara Barreto Sinhowawe Xavante ressoou com veemência no encerramento do Acampamento Terra Livre (ATL), ocorrido no último final de semana, na capital federal, Brasília (DF). Em um discurso carregado de indignação, Mara Barreto dirigiu críticas contundentes à atual administração do governador Mauro Mendes (União Brasil), acusando-a de negligência perante os direitos fundamentais dos povos indígenas e de favorecimento a interesses do agronegócio em detrimento das comunidades originárias.

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Mara Barreto Sinhowawe Xavante discursa em frente ao Congresso Nacional em Brasília durante a segunda marcha do Acampamento Terra Livre ATL, em 25 de abril. foto: Sergio Koei.

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A ativista ambiental destacou o abandono a que estão relegadas as populações indígenas do estado de Mato Grosso, denunciando que “o nosso povo está morrendo, estamos enfrentando problemas graves de saneamento básico”. Em um território que abarca três importantes biomas — Pantanal, Cerrado e Amazônico —, o estado também é lar de 43 povos indígenas, sendo os Xavante o grupo mais numeroso, com uma população estimada em cerca de 14 mil indivíduos.

A denúncia de Mara Barreto não se limitou apenas à negligência em relação às políticas públicas, mas também atingiu a estrutura governamental, evidenciando a nomeação de um não indígena para a Superintendência de Assuntos Indígenas na Casa Civil do estado de Mato Grosso. “Foi tirado um indígena para colocar um não indígena que não entende nada das nossas necessidades”, afirmou Mara Barreto, expressando a insatisfação generalizada diante dessa escolha.

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Como mulher indígena, líder Xavante, jornalista, ativista e ambientalista, Mara Barreto enfatizou que sua denúncia representa não apenas sua própria voz, mas a voz de seu povo, os Auwé Uptabi, bem como de diversas outras etnias que compartilham das mesmas angústias e desafios no estado de Mato Grosso.

A líder indígena também questionou as ações da primeira-dama, Virginia Mendes, apontando que, embora haja iniciativas de doações de cestas básicas, não há uma política específica voltada para a autonomia indígena. “Não existem projetos implementados dentro dos nossos territórios que promovam uma verdadeira autonomia de vida, especialmente no que diz respeito à autonomia alimentar”, ressaltou Mara Barreto. Ela alertou para os riscos das cestas básicas fornecidas, enfatizando que, para os indígenas, esses alimentos podem representar verdadeiros venenos, dada a propensão a doenças como a diabetes, que afeta inclusive crianças na etnia Xavante.

Em resposta às críticas, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania (Setasc-MT) afirmou que está em vigor o “Programa SER Família Indígena”, destinado a atender as aldeias Xavantes localizadas na Terra Indígena Parabuburê, em Campinápolis. Este programa concede às famílias indígenas, por meio de um cartão de transferência de renda, o valor de R$ 220 a cada dois meses, possibilitando a aquisição de alimentos próprios da cultura indígena que não estão contemplados nas cestas básicas fornecidas pelo governo.

O Acampamento Terra Livre (ATL), a maior assembleia dos povos e organizações indígenas do Brasil, tem sido um espaço crucial para o fortalecimento da voz e da luta dos povos originários do país. Desde 2004, o ATL ocorre regularmente no mês de abril, em Brasília, sendo ocasionalmente realizado em outros meses e unidades da federação, conforme a conjuntura nacional e a situação dos direitos indígenas, bem como as deliberações das lideranças e organizações do movimento indígena.

Nesse contexto de mobilização e resistência, as denúncias de Mara Barreto Sinhowawe Xavante ecoam como um clamor por justiça, igualdade e respeito aos direitos indígenas, em meio a um cenário de desafios e adversidades que ainda persistem no Brasil contemporâneo.

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A fala incisiva e esclarecedora de Mara Barreto Sinhowawe reverberou durante a segunda marcha do Acampamento Terra Livre, realizada em 25 de abril, nas imediações do Congresso Nacional. Diante de uma multidão engajada e atenta, a líder Xavante não hesitou em expor as injustiças e o descaso enfrentados pelos povos indígenas, desafiando a inércia das autoridades e clamando por justiça e dignidade para sua comunidade e para todas as etnias originárias do Brasil. Sua intervenção marcante ecoou pelos corredores do poder, ecoando como um grito de resistência e esperança em meio aos desafios enfrentados pelos povos indígenas na busca por seus direitos fundamentais.

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Movimento Cultural, Indígena, Aymará e Quechua em São Paulo Apoia Denúncias da Líder Xavante Mara Barreto Sinhowawe

Em resposta às denúncias contundentes da líder indígena Mara Barreto Sinhowawe Xavante, o movimento indígena Aymará e Quechua que atua em São Paulo oferece seu apoio incondicional às demandas dos povos originários do Brasil. As acusações de negligência e descaso por parte do governo de Mato Grosso ecoaram profundamente entre essas comunidades, que compartilham das lutas e desafios enfrentados pelos povos indígenas em todo o continente.

A Rede Planeta América Latina & Bolívia Cultural, composta por imigrantes latino-americanos das etnias Quechua e Aymará, em aliança com ativistas brasileiros, manifestou seu apoio irrestrito às demandas apresentadas por Mara Barreto. Antonio Andrade Vargas, fundador da rede cultural na cidade de São Paulo – SP, valorizando os povos originários, está intrinsicamente ligado ao meio ambiente, o qual tem sido historicamente intoxicado e devastado pela invasão europeia. “A saúde de nossas famílias deve ser uma prioridade dos governos, uma vez que existe uma dívida incalculável em relação às nossas terras, e consequentemente, às nossas vidas”, declarou Andrade.

Na cosmovisão andina amazônica, a vida está interconectada com o entorno natural, e cada elemento da natureza é visto como parte integrante do todo. “Devemos cuidar de cada um dos elementos da natureza e parar de matar nossos povos”, enfatizou o líder andino, destacando a importância de preservar o equilíbrio ecológico e respeitar os conhecimentos ancestrais que regem a relação harmoniosa entre os seres humanos e o ambiente que os cerca”, afirmou o boliviano Andrade.

A Rede Planeta América Latina & Bolívia Cultural atua há 20 anos na promoção e voz de movimentos sociais e culturais originários da região. Neste contexto, a referenda da Rede Latino-americana traz relevância no apoio internacional dos povos originários que apoiam e acompanham a Rede sul-americana.

Neste contexto de solidariedade e resistência, os movimentos culturais, indígenas, Aymarás e Quechuas em São Paulo reafirmam seu compromisso com a luta pela justiça social, pela defesa dos territórios ancestrais e pela garantia dos direitos humanos dos povos indígenas, em consonância com as demandas apresentadas pela líder Xavante Mara Barreto Sinhowawe.

fotos: Divulgação
fonte: revistacenarium.com.br

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